terça-feira, 9 de abril de 2019

CHEFE LEAL, BRANCO ET MOI MÊME...


Escreveu o Vitor sobre o Branco:
"...Era um funcionário exemplar, sabedor e interessado mas não obstante isso foi "crucificado" em vários concursos até que desistiu de se candidatar."
E sobre o Chefe Leal:
"...Como ser humano tinha defeitos e qualidades de que poucos se podem gabar.".
Fim de citação.

Nada, mas mesmo nada, a opor ao que o Vitor escreveu, mas há sempre um "mas" a emperrar a engrenagem.
Como o Vitor muito bem diz, o Chefe Leal tinha defeitos e, um deles, era ser teimoso, para não dizer casmurro e, talvez por isso, o problema do Branco.
Expliquemos o assunto então, com a minha experiência quinto-bairrista.
Por muito estranho que possa parecer nunca pertenci ao quadro do 5º Bairro Fiscal de Lisboa.
Ao vir da tropa tive que fazer um concurso para ser readmitido na DGCI, pois não tinha qualquer vínculo ao Estado. Entre três mil e tal concorrentes fiquei em décimo lugar e fui colocado na Repartição Central de Finanças de Lisboa como aspirante (?) "extra qualquer coisa".
Quando ingressei no quadro, por qualquer impedimento legal relacionado com o meu Pai que era ou tinha sido funcionário do 5º Bairro, escolhi o 6º que era no segundo andar da 5 de Outubro.
Conjuntamente com o Benites e a Manuela fui inaugurar as instalações do já então 9º Bairro, no Príncipe Real, para onde, pouco mais tarde, se mudaram os Serviços.
Vivia então na Av. do Uruguai e só tinha um autocarro para chegar à Patriarcal - o 15, que dava quase meia volta a Lisboa. Para chegar a horas apanhava o 15 nas Portas de Benfica pelas 7 e pouco da manhã e havia dias que só chegava à Repartição por volta das dez horas.
Contava aqui com a benevolência do Chefe Matos, que, talvez por viver em Benfica, perto do Estádio do Sport Lisboa e Benfica, sabia bem deste problema.
A situação não podia manter-se por muito tempo, até pelo meu feitio.
Fui então falar com o Dr. Hélder Fernandes, expor a situação e ele colocou-me em comissão de serviço gratuita no 5º Bairro Fiscal de Lisboa.
Quando me apresentei, o Chefe Leal, pôs-me no contencioso com o Duarte Silva e a Espírito Santo.
O Zé Quintino, que queria ir para lá, não me largava, "de manhã à noite", para trocar com ele, até que um dia lhe disse para ele ir falar com o Chefe que eu não me importava de trocar. Se tenho arrependimentos na vida, este é, talvez, o maior.
Assim foi, o Quintino foi para o contencioso e eu não fui para o lugar dele mas para junto do Branco.
Foram anos em que a evolução fiscal que tive foi a de alfabetar papéis, nada mais...
Farto daquilo, um dia fui ter com o Chefe Leal e disse-lhe que queria mudar de secção pois estava farto do que fazia e queria evoluir.
A resposta dele foi que, naquela Repartição, não havia mudanças de funcionários dumas secções para outras, contrariamente ao que me tinha feito.
Contrapus que chegavam funcionários novos que iam para lugares que gostaria de ocupar.
Nada feito.
Como não consegui demovê-lo, saí do gabinete e fui ter com o Dr. Hélder Fernandes a dizer que queria acabar com a comissão de serviço gratuita.
Regressei assim ao 9º Bairro onde me mantive até ter ido inaugurar o 20º Bairro, então na Marquês de Tomar, onde reencontrei o Branco.
Num desabafo ainda disse ao Chefe Leal, que, pela casmurrice dele, tinha perdido um funcionário e que o Chefe Matos muito agradecia o meu retorno.
Vem isto a propósito do Branco e do meu caso em particular.
Se um indivíduo "não é filho dum cabo miliciano", como se costuma dizer e aqui todos sabem do que falo, como é que seria possível ter aproveitamento num concurso só lendo os Códigos? De certeza que não era a alfabetar papéis de manhã à noite!...
O Branco é um excelente condutor de homens mas, a meu ver, faltava-lhe o know how que só a prática nos pode dar com a teoria.
A meu ver foi esse o grande problema do Branco e só o não foi meu porque tinha o trunfo de poder regressar ao meu Bairro de origem onde fui reencontrar outro quinto-bairrista que me ensinou muito e a quem talvez deva o meu salto na progressão na carreira - o Vieira.
Por aqui me fico, de momento.





                            ESCREVE: MILITÃO CAMACHO





1 comentário:

  1. Boa prosa!!!Quem fala assim não é gago!!!Felizmente que não há unanimidades por estas bandas!!!Vitor Fininho

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