JAGUNÇO

Nem tudo o que "aterrava" na 5 de Outubro era "Quinto-Bairrista".

Nos finais de setenta foi parar ao Profissional por Conta de Outrem um espécime muito raro, para não dizer raríssimo. Pouco tempo depois de ter chegado e, atendendo ao seu feitio, já era apelidado de "Jagunço".

Ostracizado por todos lá ficava no seu cantinho.

Um belo dia, não sei a que propósito, foi fazer queixa de mim ao Chefe Leal e a queixa era, nada mais nada menos, que eu estava ao balcão a ajudar os contribuintes a fugir ao fisco.

O Chefe Leal, conhecendo-me bem, teve que me chamar ao gabinete para saber o que se passava. Ainda nos rimos com a situação, mas a bem dizer, o caso não tinha graça nenhuma. O Branco que era o Chefe da Secção também foi chamado e o caso foi encerrado, muito embora o Chefe Leal tivesse dito que, se aquele energúmeno, tivesse feiro a queixa por escrito o caso poderia ter sido mais grave pois era obrigado a levantar um inquérito para apuramento dos factos.

Este indivíduo era de tal jaez que o Branco, sendo uma paz de alma que nunca o tinha visto perder a cabeça e trabalhei com ele uma série de anos, um dia disse-lhe, mais ou menos isto, "se você me diz mais alguma coisa eu abro a janela da varanda e atiro-o do segundo andar para a rua"!

Só uma achega - é tio de um ex-secretário de estado da cultura envolvido na venda dos quadros do Miró...

Feitios!...

                                                  ESCREVE: CAMACHO