segunda-feira, 22 de novembro de 2021

POETA E MENDIGO

SEBASTIÃO ALBA

Morreu atropelado, em Outubro de 2000, numa rua de Braga, aos 60 anos.

Escrevia poemas em papelinhos que ia pôr debaixo da porta de amigos.
Era uma Biblioteca ambulante, falava de literatura, música, política, física, matemática... tudo e mais alguma coisa.

Era o puro idealista e nunca se queixava. Era, apesar de tudo, um auto-irónico.
As filhas e alguns amigos tudo fizeram para o tirar da rua, mas em vão.

Quando por acaso ia a casa de alguma filha dormia na cozinha embrulhado numa manta.

Em 19 de Novembro de 2000 na revista Pública saiu uma reportagem  onde colhi estes elementos e que guardo.



A vida deste ser humano era digna de um filme, mas como estamos em Portugal...




Último poema

Nestes lugares desguarnecidos
e ao alto limpos no ar
como as bocas dos túmulos
de que nos serve já polir mais símbolos?

De que nos serve já aos telhados
canelar as águas de gritos
e com eles varrer o céu
(ou com os feixes de luar que devolvemos)?

É ou não o último voo
bíblico da pomba?

Que sem horizonte a esperamos
em nossa arca onde há milénios se acumulam
os ramos podres da esperança.

Sebastião Alba

Sebastião Alba, pseudónimo de Dinis Albano Carneiro Gonçalves, n. 11/3/1940 - f. 14/10/2000.

 Vencedor do 
GRANDE PRÉMIO DA LITERATURA DOMINGOS SILVA TEIXEIRA em 1996.



                      Escreve: VÍTOR 

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