quarta-feira, 17 de novembro de 2021

LERPA 2


Conforme escrevi em relato anterior, o sítio onde vivi durante longos nove meses nada tinha de confortável.

Era um local do mais indigno para uma pessoa viver. Constituído por quatro casas, feitas duma armação em ferro revestidas a chapa zincada. As das pontas estavam, em cada, dois pelotões, as do meio eram ocupadas pelos oficiais, pela secretaria, pela enfermaria e pelos sargentos. Havia um lugar onde se cozinhava mas não havia lavatórios ou duche ou casas de banho. O lavatório era uma barrica de vinho, com o torniquete a servir de torneira, o duche era um bidon de gasolina pendurado numa armação e as casas de banho era no mato. Lembro-me duma vez um soldado veio a fugir com as calças na mão pois ia sendo apanhado por um turra, como soe dizer-se.


O que fazer então quando não tínhamos operações? Jogar à lerpa pois então!

Só que aquilo era uma loucura. Havia lerpadas de dez e vinte vezes no escuro, pelo que havia, portanto, mesas com dezenas de escudos de quem lerpava…

Sei que uma vez perdi alguns cinco contos, a jogar ao tostão, na brincadeira!...



ONDE GASTAR O DINHEIRO?

Também não havia onde gastar o dinheiro, pois eramos só nós, os cento e poucos tropas e também, passados uns dias, recuperava-se o que se havia perdido, pouco mais ou menos.

Assim se passava o tempo em Nassombe!







Escreve: Militão Camacho


3 comentários:

  1. Respostas
    1. De facto não ganhava mal mas não tanto como devia. Fui, durante parte da comissão, comandante da minha Companhia a ganhar como Alferes e não como Capitão.

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  2. E não pagavas renda de casa do Córtel!

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