quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

ESPÍRITO DE CORPO



Croniqueta por Militão Camacho (filho)

Há uns tempos o Vítor, quem havia de ser, recordou o Corrêa dos Santos. Hoje é a minha vez.
Estávamos no tempo em que nos parecia não haver futuro.
Éramos uns gaiatos com pretensões a ser adultos ou adultos com pretensões a ser ainda gaiatos.
O que nos ia na alma era sermos independentes dos papás.
Uns indignados…
A “Guerra do Ultramar”, onde tinha estado, pois não era filho de nenhum “cabo miliciano”, ainda amedrontava muita gente.
Era também o tempo em que havia hora e meia para almoço.
A Repartição fechava das 12/30 às 14 horas, como é uso ainda hoje na “província”, para haver tempo para almoçar e conviver.
O Corrêa dos Santos chegou, com o seu belo carro vermelho, não fosse ele do Benfica, mesmo a queimar as duas horas.
Era verão e deixou-o, meio dentro, meio fora, da passagem de peões que ainda hoje existe, embora na altura não houvesse semáforos, frente à porta da Repartição.
De seguida cheguei eu e vi que um senhor “causídico” estava a multar o carro dele.
Subi a correr até ao segundo andar e comuniquei-lhe o facto.
O João veio por aí abaixo, em mangas de camisa, a perguntar o que se passava. Que isto, mais aquilo, blá, blá, blá, pardais ao ninho e armou-se uma valente discussão.
O polícia a pedir-lhe os documentos, ele a dizer que os tinha no casaco, no segundo andar, aquela cena…
Às duas por três o João já tinha três coimas – Uma, por ter o carro estacionado indevidamente, outra, por ter conduzido o carro sem documentos (o que se passou é que entretanto saiu o carro que estava à frente do dele e o João deixou descair o carro, embora o tivesse posto a trabalhar para o efeito, até estar fora da passagem de peões) e, ao que julgo, outra, por que lhe faltava a placa de identificação, que naquele tempo, era obrigatória, com nome e morada do proprietário, em ponto visível do exterior do veículo.
Aquilo foi uma “peixeirada” de todo o tamanho.
O que fazer?




Espírito de corpo…
Numa bela noite, véspera do Corrêa dos Santos, por ter sido notificado para ser presente a julgamento, era o que mais faltava ele dar-se por culpado…, eu, mais o Dores de Carvalho, ao que julgo ou Rui Vasco ou o Resa, fomos ao escritório do advogado do João, por cima da “Buzina”, na Rodrigo da Fonseca, para combinarmos o que haveríamos de responder acerca do assunto, quando fossemos interrogados pelo Juiz, como testemunhas do ocorrido.
O Julgamento, se assim se pode chamar, foi no gabinete do Juiz, não na sala de audiências, e ele fez questão do polícia estar presente. Como não estava, a audiência foi adiada até que ele fosse coagido a ir a Tribunal. Passados uns dias lá voltámos ao gabinete do Juiz.
A única coisa que o polícia conseguia dizer é que o João tinha sido indelicado com ele, que o ameaçou, que o ofendeu, etc., etc.. Diz o Juiz – E por que não o “prendeu” e o levou para ser julgado num processo sumário, por ofensas a uma autoridade?
A partir daqui, não quero entrar em mais pormenores, por ordem do Juiz, o polícia foi obrigado a ler o Código Penal, frente a todos nós, por imbecil e má figura.
 O João Correia dos Santos foi ilibado de todas as infracções, com base nos nossos testemunhos e nós, contentes por ele.
Um pagode!...

“Vá Camacho”. “É boi” respondia o meu pai no seu sorriso maroto.

1 comentário:

  1. Assim sim se prova que bastam meia dúzia de 3 para que o Juiz se convença que uma mentira é transformada em ...verdade!!!Porra Camacho e eu que te julgava um gajo ...sério?!!!Sim quando não te estavas a rir?!!!Safaram o Corrêa dos Santos?Ainda bem pois ele pertencia e continua a pertencer à FAMILIA do 5º-11º.Bairro Fiscal e ai de alguém que se meta connosco?!!!Até os comemos!!!Ou melhor até as comiamos que isto agora...bate chapas e tinta robbialac...consumo interno e...mal para não dizer...paupérrimo!!!

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