FOTOS: RAPOSO
Eu e o Afonso fazíamos uma parelha de respeito.
Ele nas execuções fiscais e eu na fiscalização.
Íamos para o Bairro da Liberdade, depois dumas semanas, sem qualquer receio pois, com o nosso feitio, já tínhamos conquistado aquela gente.
Quando nós descíamos do autocarro à entrada do Bairro junto à passagem de nível, ao chegarmos à Serafina diziam:- “Já sabíamos que estavam cá.”Era um que pedia para lhe comprarmos o selo do carro, era outro que pedia para lhe pagarmos isto e aquilo, era outro que tinha uma certidão para levantar e a todos, nós satisfazíamos as solicitações.
Ora certo dia, não sei a que propósito, ficámos até tarde no Bairro.
Quando demos por nós já seriam cinco e meia ou seis horas.
Onde vamos onde não vamos fomos até à tasca do Sr. Pereira.
Quando lá chegámos estavam uns tipos a jogar à moeda ao copo de três.
Aí entrámos no jogo.
Cada jogada cada rodada de vinho.
Só havia um contratempo. Nós éramos seis e só havia três copos.
Então o Sr. Pereira deitava o vinho nos três copos, passava-os por uma tina de água que tinha em cima do balcão e servia os outros três!
No dia seguinte perguntei ao Afonso como é que tínhamos vindo de Campolide para o Saldanha, se de autocarro se de elétrico.
Pois nenhum de nós se lembrava…
Vá Camacho! É boi respondia o meu Pai com aquele ar malandro.
Escreve: Militão Camacho
Quando eu fui para o 10º Bairro,
Foi como se uma dádiva do céu caísse!
Estava ele nas execuções fiscais e eu na fiscalização.
Quando da distribuição dos processos da Industrial Grupo C foi feita calhou-me Campolide e, dentro dele, o Bairro da Liberdade.
Assim, lá fomos nós, de pasta na mão para aquele Bairro.
Eramos testemunhas um do outro e, à nossa conte, foram arquivados mais de mil processos de execução fiscal e da Industrial. Porquê? È fácil.
Para o Bairro da Liberdade ninguém queria ir e como a fixação do Grupo C era feita com um carimbo que dizia mais ou menos isto:- “Não havendo nada em contrário fixa-se o rendimento do ano anterior”.
Ora, aquando da construção da Ponte 25 de Abril, foram deslocadas centenas de pessoas para a zona de Chelas. Ninguém se deu ao trabalho de verificar quem e continuaram a estar colectadas no 10º Bairro quando já se tinham mudado.
Pois foi essa a grande tarefa que eu e o Afonso tivemos, de mandar arquivar os processos que estavam duplicados, por ninguém se ter dado ao trabalho de ir in loco verificar os factos.
Foi um tempo maravilhoso.
Tinha uma tasca junto à escadaria que sobe da parte baixa do Bairro até à Serafina, encostada aos arcos do Aqueduto das Águas Livres.
Tinha um caramanchão à porta com uns bancos de pedra e lá dentro um balcão e uma mesa com uns bancos em madeira.
Pois o bom do Sr. Pereira, quando tínhamos de ir para os pontos mais recônditos do Bairro, género Vila Ferro ou Vila Amendoeira dizia:- “Vocês são malucos irem para um lugar desses de pasta na mão.”
Então chamava o Sr. Lucena, um polícia reformado que era mais bêbado que o vinho, e dizia-lhe:- “Nestes dois indivíduos ninguém toca. Ouviste?”
E assim foi.
Vá Camacho! É boi respondia o meu Pai com aquele sorriso malandro.
Escreve: Camacho
Numa bela tarde de Agosto numa Cervejaria cujo o nome não me ocorre, junto à passagem de nível em Alcntara e estando eu o Dores Carvalho e o nosso amigo José Louro a bebericar uma imperiais tiradas dum fôlego, que nisso o Louro era inflexível,
Não irei repetir os nomes mas direi que foi uma equipa de futebol à moda antiga com apenas onze jogadores de campo e o guarda-redes suplente, que acumulou com o de treinador!
Esse foi o meu papel, porque a idade já não me deixa movimentar e, se por azar o guardião titular de tivesse lesionado, o meu desempenho seria quase nulo!!!
Não se esqueceram que o lema ou melhor a táctica era: "Não é para comer uma bucha mas para encher o buxo"!!!
Sinal que o meu papel de mestre da mesma foi cumprido à risca!!!
Há por isso falta de treino e como em 10 de Janeiro do próximo ano é o jogo que se segue, é preciso não descurarem a preparação, sabendo que é quase certo aparecerem reforços e assim sendo, ninguém tem lugar assegurado!!!
E é tudo e...tudo correu como planeado com uma organização esmerada do Raposo!!!
RELATO DE: VÍTOR
FOTOS: VÍTOR PEGAS (mesmo sem ter passado pelo Bairro, Quintobairrista "à maneira" e de corpo inteiro!)